CRÓNICA
Francisco Simões
Ainda estudante na Escola de Artes Decorativas António Arroio, fez parte da equipa do PAJU, como locutor e repórter e orientador gráfico da revista do programa. Concluiu o curso em 1966 e em 1967 é bolseiro da OCDE em Itália. Em 1969 começa a sua carreira docente no Funchal onde inicia o curso de Escultura. Em 1975 regressa a Lisboa e a partir de 1980 faz diversas exposições de escultura em mármore e bronze. Muitos dos seus trabalhos estão espalhados por todo o País, salientando os do Parque dos Poetas, em Oeiras e do Metro de Lisboa (estação do Campo Pequeno).
Fui um rapaz interessado pela escola e pelo saber - A escola e a vida iluminavam o meu gosto e desejo por saber mais.
A vida era muito difícil e essas dificuldades faziam sentir-se em muitos domínios, não tinha livros e eu gostava tanto de livros, não tinha lápis de côr, nem gouaches e eu gostava tanto de cores.
Fui aprendendo a ver, a descobrir, a tactear e o caminho ia-se iluminando cada vez mais e ia ficando repleto de flores e pássaros, imensamente coloridos. Percorria esse caminho a pé, ao sol ou à chuva e divertia-me a saudar os meus companheiros que seguiam no transporte.
A escola, já não a da vida, mas a outra, fascinava-me. Tinha salas com quadros muito grandes onde se podia escrever e fazer contas. Tinha laboratórios para estudar ciências e para fazer experiências. Tinha um ginásio e balneários. Salas oficinas, para trabalhar madeiras, arames e fazer coisas com cartões e papeis. E tinha uma sala com mesas grandes para fazer desenhos e até tinha um lavatório para fazer as tintas e lavar os pincéis.
Era muito linda e apaixonante a escola deste rapaz, nessa escola ele inventava pássaros e flores, pintava paisagens com céus verdes e mares côr de mel, árvores cor de rosa e algumas brancas como neve. Claro que as inventava, eram desenhos e pinturas tão lindos e tão coloridos, mas nunca os poderia mostrar… O rapaz não tinha tintas, nem lápis de côr.
Nessa sala desenhou um pássaro, o pássaro era belo, precisava de ser pintado. Junto ao lavatório fui recolhendo todos os restos de todas as cores que os outros rapazes iam deitar fora. Com cada uma dessas cores fui pintando o meu desenho e o meu pássaro ficou com penas coloridas, com uma cauda, com tantas cores, que se tornou luxuriante e uma crista muito grande, e muito azul. Os olhos tão brilhantes olhavam-me e iluminavam os meus. Nos meus ouvidos soava uma melodia de uma magnifica orquestra de violinos, era o canto do meu pássaro.
Abri a janela da sala de desenho e o meu pássaro saiu da folha de papel e voou a caminho da liberdade… eu segui-o até hoje.
A todos vós deixo uma página branca para que construam o saber da criatividade e sempre a liberdade.
Francisco Simões